Getúlio Vargas e a Nacionalização Forçada

Getúlio Vargas com a faixa presidencial em 1930

Entre 1930 e 1945, o Brasil foi governado por um homem de baixa estatura e um autoritarismo enorme: Getúlio Vargas. 

Embora sua figura seja exaltada ainda nos dias atuais, sua primeira passagem pelo poder foi marcada por dois golpes de estado, uma ditadura, e uma campanha de perseguição aos imigrantes que, para quem vivia em comunidades como a nossa, foi um período bastante turbulento.

Contextualizando rapidamente: Getúlio Vargas chegou ao poder por meio de um Golpe de Estado, que derrubou o Presidente Washington Luis, em 24 de Outubro de 1930, impedindo assim, a posse do Presidente eleito, Julio Prestes. Em 1 de Novembro, Getúlio assume de vez o comando do país. Em 1934, torna-se Presidente Constitucional até dar um golpe novamente em 1937, para definitivamente, virar ditador com o Estado Novo.

Na década de 1930, éramos um país muito diferente. O sul do Brasil era praticamente isolado dos estados do centro. Para chegar até a capital, no Rio de Janeiro, era necessário uma longa viagem de navio. Ou vários dias, por via terrestre. 

Em lugares onde predominavam os imigrantes e seus descendentes, se formavam vários enclaves de suas terras natais. O português quase não era falado, e em muitas localidades, isoladas e com pouca comunicação, os imigrantes mantinham os mesmos costumes que tinham na Europa, sem nenhuma integração com o restante do país. 

Getúlio via nisso um problema. Não era possível que imigrantes vivessem no Brasil da mesma forma que viviam na Europa. Inconcebível que não utilizassem a língua portuguesa. Era impensável que escolas fossem mantidas por estrangeiros. Era necessário diminuir ou até mesmo eliminar toda a influência estrangeira que havia no Brasil.

Então, surgiu a Campanha de Nacionalização. Para Getúlio, a construção do Brasil como nação passaria pela homogeneização dos costumes, da cultura, da língua e da ideologia. Por isso se fazia necessário a incorporação dos estrangeiros à vida nacional. Mesmo que à força.

Para tanto, era necessário proibir o imigrante de falar a sua língua natal. Nacionalizar as escolas que estavam sob a tutela de estrangeiros. Impedir qualquer forma de organização de estrangeiros em clubes, associações, ligas, partidos políticos. Ter um jornal? Nem pensar. Os jornais que sobreviveram foram obrigados a incorporar censores, mudarem de nome e submeter-se à tutela do temido Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP. Localidades identificadas com nomes na língua dos imigrantes foram rebatizadas, com nomes "nacionais", muitas vezes fora do contexto histórico e cultural das pessoas que ali viviam. Tudo em nome de uma pretensa unidade nacional.

Nesse contexto, muitos alemães e descendentes foram presos, e até mesmo sofreram tortura simplesmente por serem alemães. Acusados de nazistas, comunistas, ou mesmo por falarem em alemão. 

Como nossa cidade foi afetada pela campanha? 

Em 1938, houve a destituição do Prefeito Frederico Schmidt, que pertencia ao Partido Integralista (a relação de Getúlio Vargas com o Integralismo é um capítulo à parte). Em seu lugar, assume Rodolfo Koffke, partidário do interventor estadual, Dr. Nereu Ramos. Por ter sido uma colônia alemã, para que as regras da campanha fossem devidamente impostas, foi implantado uma Companhia de Infantaria do Exército (funcionou no prédio onde hoje está a Biblioteca Municipal). A Escola alemã foi fechada. O Hospital HansaHoehe foi confiscado pelo Estado. Pessoas foram proibidas de falar alemão, e até lápides dos cemitérios que tivessem alguma inscrição em alemão tiveram que ser removidas.

Obviamente, para as pessoas que viviam aqui naquele tempo instalou-se um estado de terror. Ser alemão ou descendente de alemão trazia o carimbo de "suspeito". Por fim, trocou-se o nome da cidade. O belo e significativo nome Hammonia foi substituído por Ibirama (supostamente, "Terra da Fartura" em Tupi-Guarani. O que indica a total falta de conhecimento do fato de que os índios que aqui vivem há milênios não falam o Tupi-Guarani, mas uma variante do Jê).

Enfim, um período traumático e violento. A sonhada integração não ocorreu como o governo queria, e apenas gerou ressentimento e terror. Getúlio Vargas foi deposto em 1945, após a participação do Brasil na guerra que derrotaria uma ditadura na Europa, a nazista. Voltaria eleito por voto popular em 1950, mas não terminaria o mandato, cometendo suicídio em 1954. 

Autor: Cleandro G. Boeira, Museu Municipal Eduardo de Lima e Silva Hoerhann


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