Hammonia, a deusa de Hamburgo


Mosaico de Hammonia, na entrada do Hamburg Rathaus, ou Parlamento.

A Cidade Livre e Hanseática de Hamburgo é uma das cidades mais interessantes da Europa. A segunda maior cidade da Alemanha, com 1,8 milhões de habitantes é peculiar em muitos aspectos: foi uma Cidade-Estado, foi arrasada por bombardeios aliados na Segunda Guerra Mundial, viu os Beatles surgirem na década de 60 e tem um dos times de futebol mais icônicos do mundo, o Sankt Pauli. E tem uma deusa protegendo a cidade. E essa deusa batizou a colônia que viria a ser a nossa Ibirama.

A primeira edificação de Hamburgo foi construída por ordem do Imperador Carlos Magno, em 808. Foi um castelo, que deu origem a cidade e foi chamado de Hammaburg

Em 834 foi constituído um bispado, e em 845 a cidade foi arrasada por uma frota de 600 navios vikings que saquearam a cidade. Houveram grandes incêndios e saques promovidos por vizinhos pouco amistosos durante o período que se estendeu até o final do século X.

Em 1141, ocorreu uma importante aliança entre Hamburgo e Lubeck - a Hansa Teutônica - que visava proteger os interesses dos comerciantes destas cidades. Esta liga de cidades comerciais, conhecida como Liga Hanseática, duraria até 1648.

Em 1189, já importante pelo comércio, a cidade recebeu do Rei Frederico Barbarossa o status de Cidade Livre. Ou seja, era possível acessar a cidade sem pagar impostos. Esta medida, bem como a localização estratégica, tornaram Hamburgo uma potência comercial. 

Com o advento da Reforma, a cidade viu o crescimento do Luteranismo com entusiasmo, pois o mesmo era amplamente favorável aos interesses dos comerciantes que dominavam a cidade. Como na época os príncipes ou governantes das cidades escolhiam a religião de seus habitantes, em 1529, Hamburgo tornou-se Luterana. 

Antes da Reforma, a Virgem Maria era a padroeira de Hamburgo. Aos poucos, com a adoção do Luteranismo, a figura da Virgem Maria foi aos poucos sendo retirada dos selos, moedas e símbolos oficiais da cidade (mesmo assim, no brasão de Hamburgo, as duas estrelas nas torres do castelo Hammaburg representam a antiga padroeira), até desaparecer por completo no século XVII. Hamburgo estava órfã.

Bandeira de Hamburgo: o castelo Hammaburg e as estrelas, representando a Virgem Maria

E então, surge Hammonia como protetora da cidade. Seu nome surge pela primeira vez em uma cantata em 1710. A figura da deusa foi inspirada em valores que personificam a cidade, como a liberdade, o comércio, a paz, a tolerância e a prosperidade. Valores que, no passado caracterizavam a Liga Hanseática e que continuam a nortear a cidade até hoje.

Hammonia é o nome latinizado de Hammaburg, o nome que recebeu o castelo erigido por ordem de Carlos Magno. Ela, então, é a própria cidade. Uma mulher bela, altiva, olhando para a cidade e zelando por ela. Às vezes, Hammonia é retratada com uma coroa com as três torres do castelo Hammaburg


Há algo importante a ser esclarecido: Hammonia nada tem a ver com Harmonia, a deusa grega, e seu equivalente latinizado, a Concordia. Embora seus atributos sejam praticamente os mesmos, Hammonia é uma personificação da cidade de Hamburgo e de seus valores. 

Há uma inspiração na deusa grega? Talvez. Mas não é o mesmo personagem

Foram esses nobres ideais que norteavam a Cidade Livre e Hanseatica de Hamburgo que estavam na mente de nossos pioneiros ao fundarem a colônia que deu origem a nossa cidade. Devem ter lembrado do hino de Hamburgo, em sua estrofe: "Hammonia, Hammonia! O wie so herrlich stehst du da"

Que Hammonia continue cuidando de nossa cidade.

Autor: Cleandro G. Boeira, Museu Municipal Eduardo de Lima e Silva Hoerhann

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