Os Laklãnõ



Durante séculos, a etnia Laklãnõ dominava as matas que cobriam as encostas das montanhas, os vales próximos ao litoral e as encostas das Serras. Eram nômades. Sua subsistência baseava-se na caça e na coleta. A vasta Mata Atlântica e os gigantescos pinheiros forneciam tudo o que precisavam para sobreviver. Caçavam diferentes tipos de animais e aves, coletavam mel, frutos e raízes. E tinham no pinhão uma das fontes primárias de alimento.

Os Laklãnõ demonstrando habilidade com as flechas

Os Laklãnõ não tinham um território bem definido. Segundo Sílvio Coelho dos Santos, “as rotas de perambulação eram frequentadas de acordo com o seu potencial de suprir, através da caça e da coleta, as necessidades alimentares do grupo”. Ademais, segundo o mesmo autor, havia uma disputa secular com outras etnias pelo controle desse território, como os Guarani e os Kaingang. Os Laklãnõ acabaram por dominar as regiões entre o Litoral e a Serra, estendendo seu território até o Paraná, ao Norte. Ao Sul, aproximavam-se de Porto Alegre, e ao Nordeste, chegavam próximos ao Rio Iguaçu.

Embora vivessem em interdependência com a natureza, não era uma vida fácil. A sobrevivência dependia do esforço coletivo e cada indivíduo tinha um papel dentro do grupo: os homens fabricavam arcos, flechas, lanças e outros artefatos importantes para a vida cotidiana. As mulheres teciam com fibra de urtiga os agasalhos, cuidavam das crianças, faziam panelas de barro e cestos de taquara para a guarda dos alimentos; eram responsáveis pela limpeza dos animais que eram caçados e preparavam a comida; estocavam o pinhão, com o qual faziam uma espécie de farinha; moqueavam a carne dos animais; preparavam a bebida à base de mel e xaxim fermentados, que era utilizada nos rituais religiosos. 

Mulheres e crianças Laklãnõ capturadas por bugreiros

Enfim, os Laklãnõ eram um povo que tinha uma cultura complexa que os diferenciava das outras etnias indígenas que ocupavam o território brasileiro. Viviam em grupos independentes, e normalmente haviam disputas entre eles. Como todo povo que possui uma cultura com certo grau de complexidade, cada fato cotidiano tinha um significado: o nascimento, os ritos de passagem (como o uso de um enfeite labial pelos homens chamado de tambetá² e que era parte de um complexo ritual de passagem) e a morte.

A chegada dos Europeus provocaram mudanças que até hoje não foram bem assimiladas. Outras etnias que receberam o elemento invasor de forma pacífica foram dizimados pelas doenças para as quais o indígena não era imune ou pela escravidão, já que os portugueses estavam instalando inúmeros empreendimentos em São Vicente ou São Paulo. Esta situação provocou a fuga de grupos indígenas que viviam no Litoral para o interior, e então, despovoado, o litoral foi ocupado pelo europeu. No século XVII, os paulistas empreenderam incursões de caça na região dos Rios Paraná e Paraguai, onde estão localizados os Sete Povos das Missões.

Guerreiros Laklãnõ, devidamente trajados

A ocupação do território pelos Europeus seguiu, e durante o século XVIII e XIX, caminhos de tropa foram abertos, ligando a província de São Pedro do Rio Grande do Sul até São Paulo. A conquista definitiva do Litoral e do Planalto pelo Europeu fez com que a disputa de territórios pelos grupos nativos que sobreviveram ficasse acirrada.

Os Kaingang, que estavam sob influência branca, submeteram o que restou dos Guaranis, e pressionaram os Laklãnõ, que acabaram expulsos do Planalto, onde tinham acesso ao pinhão, uma das suas fontes primárias de alimento. Ficaram assim, concentrados nas terras onde hoje estão os municípios do Alto e Médio Vale do Itajaí.

Autor: Cleandro G. Boeira, Museu Municipal Eduardo de Lima e Silva Hoerhann

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