Antecedentes da Imigração: Por que os Europeus vieram para a América?



Cartaz incentivando a imigração para SC, do início do século XX

A imigração européia para o Brasil é ensinada como uma grande epopéia, onde pessoas deixaram sua terra natal e prosperaram em um país inóspito. 

Foi realmente assim? Quais os antecedentes e o que motivou esse verdadeiro êxodo de gente para este lado do oceano?

Bem, a resposta é, foi realmente assim. Uma epopéia de gente corajosa que largou tudo e atravessou o mar. E não foi. 

Para entender esta questão complexa, temos que compreender como estavam Brasil e Europa na segunda metade do século XIX, quando começaram a chegar os imigrantes.

A Imigração foi verdadeiramente um fenômeno populacional. Entre 1816 e 1850, cerca de 5 milhões de pessoas deixaram a Europa em direção a outros continentes. Entre 1850 e 1880 foram cerca de 22 milhões de pessoas. Entre 1878 e 1892 só a Alemanha viu 7 milhões de pessoas irem embora, a maioria delas para a América do Norte, nos Estados Unidos. Cerca de 22 % dos imigrantes que chegaram nos Estados Unidos no século XIX eram alemães. Em comparação com o Brasil, os alemães representaram uma significativa parcela da população de imigrantes do século XIX, mas ainda ficam atrás de italianos e japoneses, cuja massa de imigrantes continuou chegando ao país até às portas da Segunda Guerra Mundial.

Mas qual a razão desse fenômeno? É preciso entender que no século XIX, a Europa não era tão desenvolvida como é hoje. Era muito diferente, sobretudo a Alemanha, que é o nosso foco aqui.

Como já vimos em postagem anterior, até 1871, não havia um estado nacional alemão. A região era composta por diversos condados, principados, ducados, todos independentes. As grandes potências Européias (França e Inglaterra) enxergavam a possibilidade de unificação dos principados alemães como uma ameaça para a estabilidade política do continente e mantê-la dividida em pequenos reinos e fragilizada era a garantia de que a hegemonia desses países não seria ameaçada.

Reinos da Alemanha antes da Unificação

Com as guerras promovidas por Napoleão Bonaparte, boa parte dos principados alemães foram arrasados, embora tivessem ajudado Napoleão em sua ambição de conquistar a Europa. No fim das guerras, a economia destes principados que já não era aquelas coisas, fragilizou-se e a população empobreceu.

Não havia trabalho, especialmente para a grande massa de camponeses, pois os principados alemães em sua maioria eram estruturalmente feudais. Outra consequência imediata do empobrecimento da população foi a Revolução Industrial e a mecanização da agricultura, que caminhava a passos largos, que somou milhares às massas de camponeses que vagavam sem perspectiva pela Europa do século XIX.

Portanto, a solução era emigrar. Esta foi a solução para as massas de camponeses e operários urbanos empobrecidos da Europa. E ela era incentivada pelos governos, que financiavam as companhias, pois de certa forma, eles queriam "livrar-se" daquele grande contingente de pessoas, pobres e sem qualquer futuro.

No Brasil também havia um processo de transição em andamento. Durante todo o século XIX, especialmente no Segundo Reinado (1840-1889), a pressão, especialmente da Inglaterra, para o fim da escravidão era enorme, embora o Brasil fosse um país agrário e totalmente dependente da mão de obra escrava. O argumento era: com a abolição, a economia entra em colapso. Sem os escravos, precisamos de alguém que os substitua. A solução: imigrantes europeus. Este foi o primeiro fator da chegada dos imigrantes ao Brasil.

O segundo é muito mais perverso. Havia quase que um consenso na época que nossa origem mestiça era algo negativo, e que precisávamos "embranquecer" nossa população. E, portanto, povoar o país com imigrantes europeus, que trariam uma cultura "superior" e "elevada", nos faria evoluir como civilização. Felizmente, já no século XX, se compreendeu esta concepção era errada e que verdadeiramente nossa maior virtude como povo é nossa origem mestiça. E os próprios imigrantes nos mostraram isso, integrando-se ao país e enriquecendo a nossa cultura.

A imigração foi, na verdade, uma epopéia violenta, onde os alemães, italianos, e todos os povos que aqui chegaram foram as vítmas. Violência praticada por governos e companhias de colonização que queriam "livrar-se" do contingente de pobres que não tinha mais lugar na Europa. E, ao chegarem na América, os imigrantes não viram o paraíso na terra que lhes foi prometido. 

Família de imigrantes

Autor: Cleandro G. Boeira, Museu Municipal Eduardo de Lima e Silva Hoerhann


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